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Homenagem a Sandra Kogut

Homage to Sandra Kogut​

Sandra Kogut transita muito bem por diferentes formatos e gêneros audiovisuais, pelo cinema e pela televisão, pela ficção e pelo documentário, por instalações e vídeos experimentais.

 

Essa carioca descendente de húngaros, que vive e trabalha entre Rio de Janeiro, Nova York e Paris, já recebeu prêmios em diversos festivais internacionais (Rio, Berlim, Oberhausen, Kiev, Leipzig, Locarno, Havana, Roterdã e muitos outros) e teve seus trabalhos exibidos no MoMA em NY, Guggenheim Museum, ForumdesImages em Paris, Harvard FilmArchives nos EUA (onde foi realizada uma retrospectiva completa de suas obras), já lecionou em renomadas universidades ao redor do mundo, e trabalhou para emissoras de TV brasileiras e europeias.

 

Inicia sua carreira nos anos 1980 com vídeos experimentais em parceira com artistas plásticos e videoclipes que lhe renderam diversos prêmios.

 

Em 1989, é convidada para uma residência artística no Centre International de Création Vidéo Pierre Schaeffer, na França, onde inicia as gravações da série Parabolic People gravada em Paris, Nova Iorque, Moscou, Tóquio, Dakar e Rio (1991).

 

Na TV foi uma das criadoras do programa Brasil Legal (TV Globo), do qual foi a diretora-geral entre 1996 e 1998, e supervisora artística do Programa Esquenta (TV Globo), ambos apresentados por Regina Casé.

 

Realizou uma série de curtas-metragens em diversos suportes (Super 8, 16 mm e 35 mm) como: Em Français (1993), Lá e Cá (coproduzido pela TV francesa Canal Plus e pela Fundação McArthur nos Estados Unidos, 1995), Adieu Monde ou L’Histoire de Pierre et Claire (1998), Lecy e Humberto nos Campos Neutrais – Chuí – Chuy (1999), e Passagers d’Orsay (produzido pelo Museu d’Orsay/France 3, 2003).

Com participações em seminários e workshops, em 1999, é convidada a ministrar curso na École Supérieure des Arts Decoratifs, em Strasbourg, França. Também leciona nas universidades norte-americanas de Princeton, Califórnia, New York e Columbia.

 

Sua carreira no cinema se inicia num momento crítico para o audiovisual brasileiro, seguido do que costumamos chamar de retomada. Ela dirige seus primeiros curtas-metragens exatamente no início dos anos 1990, quando a produção de longas-metragens anuais chegou a marcar zero títulos, mas, por outro lado, quando havia uma intensa produção do formato de curta-metragem. A partir de meados da década, o cinema brasileiro vivencia um dos seus momentos mais promissores, quando a retomada da produção brasileira é marcada justamente pela diversidade de gêneros, de temáticas, de estilos, e pela presença marcante de filmes dirigidos por mulheres e o surgimento de diretores e diretoras estreantes.

 

Seu primeiro longa-metragem, o documentário Um Passaporte Húngaro (2001), possui marcas dessa retomada do cinema brasileiro: estreia de uma diretora em longas, filme autoral baseado em experiências próprias. O filme remonta a temas recorrentes em sua obra e que marcaram possivelmente sua história pessoal e familiar, como identidade, nacionalidade, cultura, fronteiras, pertencimento. O filme, que é uma produção França/Bélgica/Hungria/Brasil, recebeu prêmios internacionais e foi objeto de estudos e teses em vários países.

 

Mutum (2007) é seu primeiro longa-metragem de ficção, baseado na novela Campo Geral, primeira história que compõe no livro Manuelzão e Miguilim (1964), de Guimarães Rosa. O filme teve sua estreia no Festival de Cannes (Quinzena dos Realizadores), recebendo mais de vinte prêmios nacionais e internacionais.

Mutum já nasceu com um grande desafio, o de adaptar uma obra literária para o cinema. A cineasta preferiu trabalhar com não atores, que sequer haviam assistido a filmes antes, e assim Miguilim virou Thiago, nome do ator mirim que o interpreta. O filme nos transporta à aridez do sertão e dos problemas da vida adulta através da visão do menino.

 

Em seu segundo longa, Campo Grande (2015), Sandra volta a retratar o olhar infantil sobre o mundo, porém agora intercalado com as questões e perspectivas de outras personagens, que vivem paralelamente ao drama das crianças seus próprios infortúnios e tensões. Mais uma vez, ela nomeia as personagens infantis com os nomes dos próprios atores, numa demonstração de preocupação em tornar o set cinematográfico o mais acolhedor possível para as crianças, demonstrando toda sua delicadeza e generosidade como diretora.

 

O seu filme seguinte Três Verões (2019), uma co-produção Brasil/França, estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto, sendo premiado em festivais como Festival do Rio, Havana, Málaga, Antalya, entre outros. Kogut volta a trabalhar com Regina Casé, que interpreta uma mistura de caseira e governanta da casa de veraneio de uma família rica e cheia de negócios suspeitos. A ideia era retratar os escândalos de corrupção que assolavam o país a partir da visão de pessoas envolvidas indiretamente nos esquemas.  A protagonista (uma mulher negra, madura e trabalhadora doméstica, fora dos padrões hegemônicos das protagonistas do cinema) representa as pessoas cujas vidas acabam sendo impactadas pelos esquemas de corrupção, mas que normalmente não viram alvo da grande mídia ou sequer são lembradas.

Em 2021 dirigiu o documentário Voluntário ****1864 sobre os voluntários das vacinas contra a covid, com produção GloboNews/GloboPlay. Num momento em que a humanidade viveu uma grande crise sanitária, com perdas de tantas vidas, uma época de muito medo e incertezas, o filme volta seu olhar para os anônimos que se candidataram a fazer parte de pesquisas cientificas em prol de um bem comunitário.

 

Seu documentário No Céu da Pátria Nesse Instante estreou no Festival de Brasília (2023) onde recebeu os prêmios de Melhor Montagem e Especial do Júri, seguindo depois para festivais internacionais (IDFA, FIDBA, Biarritz, Málaga, entre outros). O filme retrata a tensão que envolveu o processo eleitoral e o temor pela iminência de algo que ameaçasse a democracia no país. O filme acompanha os meses turbulentos das eleições presidenciais de 2022 que culminaram na invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF em 8 de janeiro de 2023.

 

Novamente, Sandra se dedica a retratar alguma grande crise contemporânea, confirmando seu olhar atento, seu talento (também!) como documentarista, sua habilidade para filmar algo que ainda está acontecendo, e sua contribuição para o uso do cinema como importante documento histórico, de registro de fatos marcantes para reflexão hoje ou das futuras gerações.

 

Referências:

ADOROCINEMA. Disponível em: https://www.adorocinema.com

SANDRA Kogut. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/

pessoas/4955-sandra-kogut

Sandra Kogut moves very well between different audiovisual formats and genres, film and television, fiction and documentaries, installations and experimental videos.

 

This Hungarian descendant Rio native, who lives and works between Rio de Janeiro, New York and Paris, has already received awards at several international festivals (Rio, Berlin, Oberhausen, Kiev, Leipzig, Locarno, Havana, Rotterdam and many others) and has had her work exhibited at MoMA in NY, Guggenheim Museum, Forum des Images in Paris, Harvard Film Archives in the USA (where a complete retrospective of her works was held), has lectured at renowned universities around the world, and worked for Brazilian and European TV stations.

 

She began her career in the 1980s with experimental videos in partnership with visual artists and music videos that earned her several awards.

 

In 1989, she was invited to an artistic residency at the Centre International de Création Vidéo Pierre Schaeffer, in France, where she began recording the series Parabolic People,shot in Paris, New York, Moscow, Tokyo, Dakar and Rio (1991).

 

On TV, she was one of the creators of Brasil Legal (TV Globo), of which she was the show runner between 1996 and 1998, and the artistic supervisor of Programa Esquenta (TV Globo), both presented by Regina Casé.

 

She made a series of short films in different formats (Super 8, 16 mm and 35 mm) such as: En Français (1993), Lá e Cá (co-produced by the French TV Canal Plus and the McArthur Foundation in the United States, 1995), Adieu Monde ouL’Histoire de Pierre et Claire (1998), Lecy e Humberto nos Campos Neutrais – Chuí – Chuy (1999), and Passagers d’Orsay (produced by the Musée d’Orsay/France 3, 2003).

Having participated in seminars and workshops, in 1999, she was invited to teach a course at the École Supérieure des Arts Decoratifs, in Strasbourg, France. She also lectures at the North American universities of Princeton, California, New York and Columbia.

 

Her career in film began at a critical moment for Brazilian audiovisual, followed by what we usually call resumption. She directed her first short films exactly at the beginning of the 1990s, when the annual production of feature films reached zero titles, but, on the other hand, when there was an intense production in the short film format. From mid-decade onwards, Brazilian film experienced one of its most promising moments, when the resumption of Brazilian production was marked precisely by the diversity of genres, themes, styles, and by the notable presence of films directed by women and the emergence of first time filmmakers.

 

Her first feature film, the documentary Un passeport Hongrois (2001), bears the marks of this resumption of Brazilian cinema: the debut of a director in feature films, an authorial film based on her own experiences. The film goes back to recurring themes in her work that have possibly marked her personal and family history, such as identity, nationality, culture, borders, belonging. The film, which is a France/Belgium/Hungary/Brazil production, received international awards and was the subject of studies and academic theses in several countries.

 

Mutum (2007) is her first fiction feature film, based on the novel Campo Geral, the first story included in the book Manuelzão e Miguilim (1964), by Guimarães Rosa.

The film premiered at the Cannes Film Festival (Directors’ Fortnight), receiving more than twenty national and international awards. Mutum was imagined with a big challenge, that of adapting a literary work to film. The filmmaker preferred to work with non-actors, who had not even seen films before, and so Miguilim became Thiago, the name of the child actor who plays him. The film transports us to the aridity of the backlands and the problems of adult life through the boy’s vision. 

 

In her second feature, Campo Grande (2015), Sandra returns to portraying a child’s perspective of the world, but now interspersed with the questions and perspectives of other characters, who live their own misfortunes and tensions alongside the children’s drama. Once again, she names the children’s characters after the actors themselves, demonstrating her concern for making the film set as welcoming as possible for children, demonstrating all her delicacy and generosity as a director.

 

Her next film Three Summers (2019), a Brazil/France co-production, premiered at the Toronto International Film Festival, receiving awards at festivals such as Rio de Janeiro, Havana, Málaga, Antalya, among others. Kogut returns to work with Regina Casé, who plays a mix of a housekeeper and maid at the summer house of a rich family full of suspicious businesses. The idea was to portray the corruption scandals that were plaguing the country from the perspective of people indirectly involved in the schemes.The protagonist (a black, mature woman and domestic worker, outside the hegemonic standards of film protagonists) represents people whose lives end up being impacted by corruption schemes, but who are not normally targeted by the mainstream media or are not even remembered. 

In 2021, she directed the documentary Voluntário ****1864 about Covid vaccine volunteers, produced by GloboNews/GloboPlay. At a time when humanity is experiencing a major health crisis, with the loss of so many lives, a time of great fear and uncertainty, the film turns its attention to the anonymous people who applied to take part in scientific research in favor of a common good.

 

Her documentary No Céu da Pátria Nesse Instante premiered at Brasília Film Festival (2023) where it received Best Editing and Jury Special awards, and then went on to international festivals (IDFA, FIDBA, Biarritz, Málaga, among others). The film portrays the tension that surrounded the electoral process and the fear that something was imminent that would threaten democracy in the country. The film follows the turbulent months of the 2022 presidential elections that culminated in the invasion of the National Congress, the Presidential Palace and the Supreme Federal Court on January 8, 2023. 

 

Once again, Sandra dedicates herself to portraying some major contemporary crisis, confirming her attentive look, her talent (also!) as a documentary filmmaker, her ability to capturesomething that is still happening, and her contribution to the use of film as an important historical document, recording important facts for reflection, today or for future generations.

Sessão Homenagem/Hommage Screening

Três Verões Three Summers

Através do olhar de Madá (Regina Casé), uma caseira num condomínio de luxo à beira mar, acompanhamos o desmantelamento de uma família em função dos dramas políticos que abalaram o país durante três anos consecutivos (2015, 2016 e 2017). Para abrir um negócio, ela pede dinheiro emprestado aos patrões, mas acaba, sem imaginar, envolvida em um esquema de corrupção.

Through the eyes of Madá (Regina Casé), a housewife in a luxury condominium by the sea, we follow the dismantling of a family due to the political dramas that shook the country for three consecutive years (2015, 2016 and 2017). To open a business, she borrows money from her bosses, but ends up, unimaginably, involved in a corruption scheme.

DIR Sandra Kogut

R Sandra Kogut, Iana Cossoy Paro

M Luisa Marques, Sergio Mekler

E Regina Casé, Otávio Muller, Gisele Fróes, Rogério Fróes, Carla Ribas, Jessica Ellen, Daniel Rangel, Carol Pismel, Wilma Melo, Luciano Vidigal, Edmilson Barros, Charles Fricks, Paulo Verlings, Glicerio do Rosário, AlliWillow.

Melhor Filme, Melhor Atriz, Antalya Golden Orange Film Festival/Turquia 2019; Melhor Montagem, Festival Internacional de Cinema de Havana/Cuba 2019; Melhor Atriz, Festival do Rio 2019; Prêmio especial do júri, Melhor Atriz, Málaga Spanish Film Festival/Espanha 2020.  

 

Best Film, Best Actress, Antalya Golden Orange Film Festival/Turkey 2019; Best Editing, Havana International Film Festival/Cuba 2019; Best Actress, Rio de Janeiro International Film Festival/Brazil 2019; Special Jury Award, Best Actress, Málaga Spanish Film Festival/Spain 2020.